Prefiro assim…

“O brasileiro prefere mais viajar pelo Brasil do que viajar para o exterior.”

Vamos brincar de Jogo dos Sete Erros. Mas, como hoje é sexta, dia internacional da preguiça, vamos adaptar e brincar de Jogo dos Dois Erros.

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O verbo “preferir” já traz, no seu significado, a ideia de elencar algum elemento como o top da balada. Sendo assim, o uso do “mais” não é adequado. Não se “prefere mais” ou se “prefere menos”: prefere-se e ponto.

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Em termos de regência, o verbo “preferir” exige a preposição “a”. Lembre-se sempre de que, por não estar estabelecendo uma comparação, e sim uma preferência, o uso da locução “do que” não se aplica.

Como fica a frase sem esses dois erros?

“O brasileiro prefere viajar pelo Brasil a viajar para o exterior.”

A anta, a capivara e a alternativa

Hoje fiquei encantada com uma foto que mostrava cerca de 20 capivaras nadando nas águas do Lago Paranoá, aqui em Brasília. A seca aqui está demais, e as bichinhas estavam aproveitando a oportunidade de se refrescarem.

Em comentários sobre a foto sensacional nas redes sociais, vi muita gente chamando as capivaras de antas. Totalmente diferentes.

Isto é uma anta.

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Isto é uma capivara.

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Nada em comum, além do fato de serem dois animais bem interessantes e simpáticos.

Graças à santa polissemia (“poli”= muitos + “sema”= significados), nossa língua cria novos empregos para as palavras. “Puxar a capivara de alguém”, longe de significar “tracionar para a sua direção o quadrúpede comedor de capim de outrem”, significa “puxar a ficha criminal de alguém”.

Já a anta, pura injustiça, mesmo com essa carinha simpática, de quem não incomoda ninguém, tem seu nome utilizado com o sentido de “pessoa de inteligência limitada”, justamente pelo seu comportamento pacífico.

Finda essa volta fenomenal, vamos ao assunto central da conversa de hoje: a palavra “alternativa”.

“Alternativa” não é anta nem capivara. Não é mamífero, não come capim e não tem vários sentidos. Tem um só, que ela já fez questão de colocar no próprio nome, para que as pessoas não errassem. Mas a pobre não teve sorte.

“Alternar” e toda a sua família (alternativa, alternância…) significam a escolha entre duas situações. Duas. Não mais. Alterna-se entre uma coisa e outra.

O dicionário Houaiss aceita o uso mais moderno da palavra “alternativa” como sinônimo de “opção”. Mas o Aurélio só registra o sentido de alternância entre duas escolhas.

E é muito comum vermos as pessoas confundindo anta com capivara, alternativa com opção sem nem dar uma olhadinha mais atenta às bichinhas. Não são iguais.

Coisas de gente conservadora essa mania de querer preservar velhos hábitos. Mas vou continuar trocando “alternativa” por “opção” sempre que houver mais de duas escolhas…

Concurso do STJ – 100 Questões de Direito Constitucional

O blog Português de Fato tem um superpresente para os concursandos que vão fazer provas para o STJ. E para todos os outros também, claro!

Iniciamos hoje uma série de publicações de 100 questões do Cespe, com gabarito, para auxiliar nos estudos!

Hoje, estamos publicando as questões de Direito Constitucional.

Receba, aceite e boa preparação!

capaEBook

Por que a dificuldade?

Hoje é um bom dia para transformarmos um leão raivoso em gatinho manhoso. Vem comigo dar tapinha nas costas do “porquê” e chamá-lo de meu dengo.

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No primeiro caso, trataremos da expressão “por que”, formada pela preposição “por” e pelo pronome “que”.

Dica inesquecível para a sua vida: sempre que usarmos essa expressão, será possível substituir o “que” por “que motivo”, quando o pronome que forma a expressão for interrogativo ou indefinido.

O Congresso não entende por que agora deve ajudar o governo a enxugar o Orçamento 2016.

O Congresso não entende por que motivo agora deve ajudar o governo a enxugar o Orçamento 2016.

Então, sempre que “por que” puder ser substituído por “por que motivo”, escreve-se separado.

Com acento ou sem acento? Depende da posição na frase. Se estiver no início da frase ou no meio, sem acento. Se estiver no fim, no finzinho mesmo, logo seguida de ponto final, ponto de exclamação ou de interrogação, com acento.

Por que as oitivas da CPI do petrolão não obtiveram resultados?

As oitivas da CPI do petrolão não tiveram resultado por quê?

As oitivas da CPI do petrolão não tiveram resultado. Por quê?

Perceba que a dica da substituição continua valendo em todos os exemplos!

Ficou fácil? Olha o exemplo abaixo.

Não sei por que motivo ela não retornou ao fórum.

Dá para ler: “Não sei por que motivo motivo”? Não. A expressão da frase acima é formada pela preposição “por” + pronome relativo “que”.

Qual a diferença? O pronome relativo aceita flexões. Sendo assim, não é errado escrevermos desta forma:

Não sei por quais motivos ela não retornou ao fórum.

Então, mais uma dica: se pudermos substituir o “por que” por “por qual” ou “por quais”, escreve-se separado.

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A palavra “porque” também pode ser uma conjunção. Veja que agora ela não é mais uma expressão, é uma palavra. Por isso, vem grudada, sem separação.

A conjunção é uma palavra que une dois termos, estabelecendo uma relação de sentido entre eles.

O nosso “porque” pode estabelecer uma relação de causa ou de explicação.

As oitivas da CPI do petrolão não tiveram resultado porque os acusados permaneceram calados.

No exemplo, a causa, o motivo da falta de resultado das oitivas foi o fato de os acusados permanecerem calados.

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Nosso terceiro caso é o uso do “porquê” como substantivo.

Nesse caso, o “porquê” significa “o motivo”, “a causa”. Como substantivo que é, vem acompanhado de um artigo, de um pronome, de um numeral ou de um adjetivo.

Junto e sempre, sempre, sempre com acento. Pode flexionar o número, aparecer no singular ou no plural.

No encontro, o presidente da Câmara apresentará os porquês das suas decisões.

Ele enumerou dez porquês para não adotar o código imposto.

Você ainda não me disse o porquê da sua revolta.

Intimidade criada, agora use sem medo!

Meu bem, meu mal

“Bem” e “mal” são advérbios e, por isso, invariáveis, ou seja, não flexionam em gênero nem em número*.

*A única possibilidade de flexão de número é quando “mal” ou “bem” exercem função de substantivo.

O mal da alma é a solidão.

Os males da alma são a solidão e a indiferença.

O carro é o único bem que ele possui.

O carro e a casa são os únicos bens que ele possui.

Um advérbio, como o próprio nome dá spoiler, é um termo que acompanha/modifica um verbo.

Aqueles pais educaram bem os filhos.

Aqueles pais educaram mal os filhos.

Mas “bem” e “mal” podem se unir a outras palavras e formar um adjetivo.

São crianças bem-educadas.

São crianças mal-educadas.

Ou podem continuar como advérbios (e, por isso, sem hífen).

Eles foram bem educados pelos pais.

Eles foram mal educados pelos pais.

No caso de formarem adjetivos, a regra é clara:

MAL: só exige hífen quando a palavra seguinte começar por “h” ou por “vogal”.

Mal-humorado, mal-amado, mal-educado, mal-acabado, mal-informado, mal-estar…

Malfeito, malcriado, maldito, malmequer…

BEM: sempre exige hífen, mas aceita outras formas também.

Bem-humorado, bem-feito, bem-dito, bem-estar, bem-me-quer…

Bendizer ou bem-dizer, benquerer ou bem-querer…

Nó no cérebro 1: “bem-me-quer” tem hífen porque é uma espécie botânica. É um outro nome para calêndula. Malmequer também, mas não tem hífen, é tudo junto.

Nó no cérebro 2: “mal-francês” tem hífen porque é uma doença. Não está ligando o nome à pessoa? É o mesmo que sífilis

Disse que disse

Em textos informativos, as citações são recursos muito preciosos para a construção do tema.

Essas citações podem ser diretas, quando são escritas exatamente as palavras proferidas pela fonte; ou indiretas, quando o autor do texto reescreve a fala, respeitando o conteúdo.

Mesmo sendo um bom recurso, não é bom exagerar. Não vale colocar um parágrafo de seis linhas todo em forma de citação direta. Fica pouco objetivo e empobrece o texto.

E, quando a fonte não é exatamente um primor de oratória, fica sempre mais elegante usar a citação indireta.

As aspas marcam o uso de citações diretas. A pontuação dessas citações foi apresentada aqui.

Muito cuidado com as frases interrogativas que, nas citações indiretas, viram frases afirmativas e, portanto, perdem o sinal de interrogação.

“Por que o avião não está pronto?”, esbravejou a presidente.

A presidente perguntou por que o avião não estava pronto.

Além da pontuação, quando tratamos de citações, precisamos tomar cuidado com os verbos declarativos ou declaratórios. São aqueles verbos que aparecem antes ou depois de uma citação direta.

Normalmente, eles são usados no tempo pretérito, mas o presente também é uma opção. Só não é permitido misturar os tempos no mesmo texto.

Temos também que atentar ao significado desses verbos. Vou usar um exemplo que o Vinicius Doria sempre cita.

“Talvez a decisão seja tomada ainda nesta semana”, afirmou o assessor.

Quem afirma está assinando embaixo, está certo de alguma coisa. A palavra “talvez” denota dúvida e não combina com o verbo declarativo escolhido.

Segue uma lista de verbos declarativos que podem ser usados em nossos textos. Ela não é exaustiva. Praticamente todos os verbos de ação podem desempenhar esse papel. Desde que o significado esteja de acordo.

Acreditar, admitir, acrescentar, afirmar, advertir, alegar, alertar, analisar, apontar, argumentar, aconselhar, assegurar, assumir, citar, comentar, concluir, comemorar, confessar, cobrar, completar, complementar, criticar, confirmar, constatar, contradizer, contar, contra-atacar, dizer, destacar, determinar, elogiar, enaltecer, enumerar, esclarecer, estimular, exemplificar, exigir, exaltar, explicar, explanar, expor, finalizar, frisar, garantir, insinuar, instruir, imaginar, indicar, indagar, lamentar, lembrar, mencionar, opinar, observar, orientar, ostentar, pensar, pedir, perguntar, pressupor, prometer, ponderar, provocar, propor, prever, planejar, questionar, rechaçar, recomendar, responder, relatar, realçar, ressaltar, respaldar, retribuir, reconhecer, salientar, sugerir, sugestionar, sustentar, valorizar

A vida secreta das palavras

Existem palavras que parecem seres abissais: vivem nas profundezas dos alfarrábios e causam grande estranheza a quem topa com elas, seja por lazer ou por trabalho. Com formatos estranhos, assemelham-se mais a invenções de algum escritor de criatividade extrema.

Outro dia, meu querido amigo Orlando Brito – ele mesmo um talento abissal na arte da fotografia – ao escrever sua coluna Fotografia É História,  deparou-se com uma dessas palavras pouco usuais. Em uma primeira olhada, acreditou ser um erro ortográfico, mas veio conversar comigo para tirar a dúvida.

A palavra era “ombridade”. Assim, sem “h”. “Hombridade” ele conhece – e exerce – de sobra: é sinônimo de “honradez”. Mas “ombridade”, assim despida do “h” inicial? Não… devia ser erro.

Não é. “Ombridade” existe. Significa “qualidade de quem ombreia, de quem se coloca em posição de igualdade”. Vem de “ombro”. Daquele hábito de encostarmos os ombros para saber se a altura é a mesma.

Houaiss nos traz um exemplo da palavra aplicada em uma frase: “Pretensão de ombrear-se com alguém que lhe é superior”.

Mas, cuidado: quando se trata de “honradez” ou, de uma forma mais coloquial, de “vergonha na cara”, a palavra é escrita com “h”. E pode ser associada a homens e a mulheres, indiferentemente: “Ela teve a hombridade de assumir”.

Cerca de/Perto de/Em torno de

Quando usamos as expressões “cerca de”, “perto de”, “em torno de” e outras que indicam aproximação de quantidade ou de valores, é porque não temos a quantidade ou o valor exato.

Sendo assim, o correto é usar números redondos.

A manifestação reuniu cerca de 10.000 pessoas.

É um erro usar números “quebrados” com tais expressões, pois esses números acabam por contradizer o sentido da expressão.

Foram empenhados em torno de R$ 2.647.202,00 no processo de reformulação da fábrica.

O correto seria:

Foram empenhados em torno de R$ 2 milhões (ou R$ 3 milhões) no processo de reformulação da fábrica.

Só para implicar: é mais ou menos como quando usamos a expressão “é muito pouco”. É muito ou é pouco? É exato ou é aproximado?

Por que eu não compartilho algumas postagens no Face?

Por isso:

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Basta só ALGUNS MINUTOS? Sujeito no plural e verbo no singular?

Esse é um risco assumido por quem usa muita inversão da ordem direta. O natural é: sujeito + verbo + complementos. Ao inverter, deve-se prestar o dobro da atenção.

O correto é: Bastam só alguns minutos. Já basta a mágoa, né?