Por que “secretário adjunto” não tem hífen?

Com as peraltices dos nossos queridos chefes do GDF (Governo do Distrito Federal), o termo “secretário adjunto” entrou na moda.

Como são duas palavrinhas, devemos ligá-las com um hífen, certo? Errado!

Vamos organizar o raciocínio. Primeiro, precisamos conhecer o significado de “adjunto”. A palavra é um adjetivo, que significa “assistente, auxiliar” e, por extensão de significado, “substituto”.

Quando ligamos uma palavra a outra por meio de hífen, estamos dizendo que pegamos duas palavras diferentes, cada qual com sentido próprio, e criamos uma terceira palavra, também com sentido próprio, diferente dos originais.

Exemplo: guarda-roupa. O verbo “guardar” tem um sentido; o substantivo “roupa”, outro. Unindo as duas palavras com um hífen, temos um terceiro sentido. Foi?

No caso do adjetivo “adjunto”, acontece uma coisa diferente: o adjetivo não se une ao substantivo “secretário” para formar uma terceira palavra. Ele simplesmente dá uma característica ao substantivo.

Veja a diferença em “diretor-presidente”. São dois substantivos. Por isso, ao uni-los, temos uma terceira palavra.

Isso posto, o cargo de nossos peraltas secretários não tem hífen.

Padronização express

– Nossa “Operação Lava-Jato” é com hífen, com letras iniciais maiúsculas.

– Usamos itálico em palavras estrangeiras, com exceção de palavras em latim e de algumas palavras que usamos muito frequentemente, como “e-mail”, “internet”. Usamos itálico também em nomes de revistas e jornais, como Veja, IstoÉ, O Globo, e em nomes de publicações periódicas, como Relatório Focus. As aspas são usadas em títulos de livros.

– Usamos bold (ou negrito) quando citamos o portal (Portal Fato Online, o Fato Online) e os programas da TV Fato (Papo de Redação, Brasília de Perto, O que Vem de Fato, Blog da Leiliane…).

– Não colocamos nomes de partidos por extenso, usamos apenas as siglas. E barra (/) para separar a legenda da região. Deixamos o hífen para palavras compostas e para expressões como “a dobradinha Dilma-Lula”.

– Em alguns casos, a sigla é tão mais conhecida que dispensa o uso do nome extenso. PIS/Pasep, por exemplo. Se o autor do texto quiser, pode dar uma breve explicação entre vírgulas, o que é muito mais eficiente.

– Depois de ponto e vírgula, letra minúscula, sempre.

– Todos os nomes comuns aparecem em caixa-baixa: presidente, ministro, deputado, chefe, general…

No mais, recomendo a leitura dos posts anteriores. Tem muita coisa aproveitável!

Ideia interrompida

Às vezes, é estratégico. No meio do texto, a gente quer deixar um pensamento, uma ideia no ar…

Às vezes, é emocional. Queremos que as palavras mostrem alguma emoção, uma dúvida, uma hesitação…

Aí, lançamos mão desses três pontinhos… e pensamos… talvez… quem sabe…

E parou por aí! Um texto muito cheio de reticências, a não ser que tenha este objetivo mesmo, acaba por irritar o leitor pela falta de foco.

Não é novidade. Nas aulas de redação, sempre aprendemos que a clareza, a coesão, a objetividade são metas a serem perseguidas em nossos textos. Ainda mais em textos informativos.

No entanto, é possível que, em um ou outro ponto, lancemos mão do recurso das reticências para dar um movimento ao texto. Mas não dá para ficar divagando, tergiversando, viajando na maionese.

Red Pencil with Reflection Drawing Oval Speech Bubble containing Shaded Ellipsis on White Background

Ok, você está com muita vontade de usar reticências… seu dedo está coçando…

Então, pelo menos, fique atento(a) a estes detalhes:

1

Só dê espaço depois das reticências, nunca antes.

2

Se a ideia estiver completa, use letra maiúscula depois das reticências.

Mas acompanhar o pensamento dos parlamentares… Um outro tema a ser definido é a maioridade penal.

3

Se as reticências estiverem simbolizando uma pausa, uma hesitação ou se você estiver fazendo um suspense, use letra minúscula depois dos três pontinhos.

E o novo ministro da Saúde é… o deputado federal Marcelo Castro!!

4

Para indicar que foi suprimido um trecho de uma citação, usamos reticências entre parênteses ou entre colchetes. Escolhido um deles, o padrão deve ser mantido.

O réu informou que chegou ao local às 9h […], ficando no local até as 14h.

De onde você tirou isso, pessoa?

Lobão prestou um grande desserviço à língua portuguesa ao gravar a música “Me Chama”. Não há aquele admirador que, em uma roda de violão ou no escuro do quarto, curtindo uma baita dor de cotovelo, não tenha se esgoelado nos versos:

Aonde está você? Me telefona!

Me chama, me chama, me chaaaamaaaaa… 

De onde ele tirou o “aonde”?

Em se tratando de análise sintática, cada palavrinha tem a sua função dentro de uma frase. Nada sobra. Não dá para desmontar, montar de novo e ainda fazer um robô com as peças que sobram. Porque não existem tais peças.

Falamos um pouco de regência em outras postagens. Para recordar: regência é a relação de subordinação que se estabelece entre um verbo ou um nome e seus complementos. Essa relação pode exigir uma preposição ou pode dispensá-la.

A palavra “onde” pode ser um advérbio interrogativo. Advérbio, porque altera um verbo, dando uma informação de lugar. Interrogativo porque pode iniciar uma pergunta.

Onde você comprou esse material?

Também pode ser um pronome relativo, quando substitui um termo que já foi citado.

O local onde será realizada a reunião permanece em sigilo.

No exemplo acima, existem duas orações: (1) O local permanece em sigilo; (2) A reunião será realizada no local. Para não repetir o termo “local”, usamos o pronome relativo “onde”.

Vamos voltar ao “aonde” do Lobão.

Em algumas frases, usamos verbos que regem a preposição “a”. Frequentemente são verbos que indicam movimento. Por exemplo, o verbo “ir”.

Lembra aquelas ladainhas que a professora pedia para você repetir? Este é o momento de usá-las. Quem “vai” “vai” algum lugar. Ou seja, o verbo “ir” pede a preposição “a”.

Aonde você vai depois que sair do plantão?

O “a” se une ao pronome interrogativo “onde” e, voilá, eis que surge o “aonde”.

A esta altura do papo, você já deve ter sacado o erro na música tema do nosso post, certo?

O verbo “estar” não pede a preposição “a”. Por isso, o correto seria “onde está você”.

Dava para fazer um robozinho com o “a” que estava sobrando.

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Crédito da imagem: <http://megaarquivo.com/2012/04/04/5675-mega-tecs-eua-lancam-projeto-para-criacao-de-robos-caseiros&gt;

Esquisito tal e qual

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O simpático rapaz da foto acima é um “macaco de tromba”. Achou esquisito? Isso porque você nunca se deparou com a concordância da expressão “tal qual”.

Quando usamos “tal qual” em uma sentença, estamos fazendo uma comparação entre dois elementos. E concluindo que eles são iguais, que não existe diferença entre eles.

Dois elementos, duas palavras. “Tal” concorda com o primeiro elemento. “Qual”, com o segundo.

Assim:

Suas decisões são tais qual a minha.

Ela se vestia tal quais as suas irmãs.

E agora? O que é mais esquisito?

Das coisas que não combinam

Já falamos um pouco sobre paralelismo. Hoje, vamos ver uma aplicação de falta de paralelismo muito comum.

Você concorda ou discorda com essa declaração?

Temos, no exemplo acima, dois verbos que, apesar de serem antônimos, não compartilham a mesma regência.

“Concordar”, quando verbo transitivo indireto, aceita as preposições “com” ou “em”.

Concordo com os argumentos apresentados pelo parlamentar.

O médico concordou em fazer um laudo detalhando as condições do paciente.

Já o verbo “discordar” pede a preposição “de”.

Desde sempre, discordavam da opinião alheia sempre que havia uma consulta.

Sendo assim, a frase do exemplo poderia ser mais econômica, perguntando apenas se os leitores concordam com a declaração, uma vez que a alternativa é óbvia.

Implicante

Coisa comum de se ver é gente implicando com a regência do verbo “implicar”.

Vamos parar com esse bullying e aprender de uma vez por todas.

1

O verbo “implicar”, quando significa “ter implicância com alguém”, pede a preposição “com”.

A vizinha vivia implicando com os novos moradores.

2

O verbo “implicar” também pode aparecer na forma pronominal. Nesse caso, ele significa “envolver-se em algo” e pede a proposição “em”.

O deputado implicou-se em uma situação delicada por causa da assessora.

3

E, para fechar, o campeão de erros: “implicar” com sentido de “acarretar”, “ter como consequência” não pede preposição alguma. Ele fala diretamente com o seu complemento.

A delação do ex-diretor implicou a prisão de políticos famosos.

Fácil, né?

É tudo uma questão de tempo

1

Você programou alguma coisa para o seu fim de semana? Ou para o seu final de semana? É tudo a mesma coisa? Não!

Fim de semana é o período de tempo – delicioso e curto, por sinal – que começa na noite de sexta e termina na noite de domingo ou, para os mais animados, na manhã da segunda.

Final da semana indica o último período mesmo, o finalzinho. Algumas pessoas defendem que a semana termina no sábado, porque a nova semana começa no domingo. Final de semana, portanto, são as últimas horas de sábado.

Percebam que ainda estamos no plano do sentido. Gramaticalmente, a dúvida fica no uso do hífen e, nisso, ambas as expressões são iguais: não se usa hífen em nenhuma das duas.

2

A mesma coisa com o final do ano e o fim do ano. A festa é de fim de ano ou de final de ano?

Aqui, precisamos mergulhar um pouquinho mais na gramática, pois o sentido não fica tão claro como no caso do fim/final de semana.

“Fim” é um substantivo. “Final” é um adjetivo. O antônimo de “fim” é “início”. O de “final” é “inicial”.

“Festa de inicial do ano” está correto? “Festa de início de ano” parece melhor. Portanto, “festa de fim de ano”.

3

E véspera/vésperas? Têm sentidos diferentes também.

Vamos ao início: a palavra “véspera” tem origem no latim está diretamente ligada, olhem que lindo!, à estrela Vésper, o planeta Vênus, o Planeta do Amor, que é avistada quando, quando? À tarde. Por isso o termo “vespertino”.

Então, véspera, no singular, deve ser usado só quando queremos nos referir ao período imediatamente anterior ao dia “d”. Não precisamos ser tão inflexíveis e considerar apenas a tarde do dia anterior. Pode ser o dia inteiro, mas só um.

Para indicar um período maior, usamos o nome do plural: “às vésperas”.

4

E as maldades que fazem com “meado”? Usam a palavrinha para indicar início, meio ou fim de um período de tempo. Errado.

“Meado” vem do verbo “mear”, que significa “partir ao meio”. “Meado”, então, significa “partido ao meio”.

“Meado de junho”, então, é o dia 15 de junho. Se o mês tiver 31 dias, pode ser o dia 15 ou o dia 16.

E “meado do ano”? Junho.

Pode ser “meados”. Pode. Aliás, se fôssemos seguir à risca o que defendem alguns gramáticos, não usaríamos sequer a expressão “no meado do mês”, e sim “meado o mês”. Escreveríamos até “meada a semana”.

Mas deixemos as inflexibilidades para os inflexíveis e fiquemos de boas. Basta não usar “meado” ou “meados” para indicar o começo ou o fim de um período que tudo fica bem.

Nomes no plural, uma estranha concordância

Uma das matérias da editoria de Economia foi publicada com o seguinte título:

Estados Unidos adia fim da era do juro zero.

Um alívio para a já combalida economia brasileira, mas uma pulga atrás da orelha dos leitores: se “Estados Unidos” está no plural, como o verbo “adia” aparece no singular? Pode isso?

Vamos conversar sobre algumas palavras que estão à nossa volta. Existem nomes próprios – e até nomes comuns – que só têm a forma plural, marcada pelo “s”.

Dentre os nomes próprios, podemos destacar: Estados Unidos, Minas Gerais, Amazonas, Alpes, Campos, Vassouras, Lusíadas…

Representando os nomes comuns, temos “férias”, “pêsames”…

A concordância verbal desses nomes vai depender, em alguns casos, de uma pequena palavra, o artigo. Se tais palavras vierem acompanhadas de artigo, o verbo concorda com o artigo. Se não vierem acompanhadas de artigo, o verbo fica no singular.

Assim sendo: “Estados Unidos adia…” ou “Os Estados Unidos adiam…”. É fácil perceber que, no segundo caso, estamos falando de cada estado que forma a República Federativa.

Nos nomes comuns: “Férias recarrega a bateria” ou “As férias recarregam a bateria”.

Mas, três parágrafos acima, tem uma observação: “em alguns casos”. Que outros casos há? Aqueles nomes plurais que não aceitam o uso do artigo, como “Campos”, “Campinas”… para esses, o verbo ficará sempre no singular.

Campinas teve um surpreendente desenvolvimento na última década.

Em tempo: ainda falaremos mais sobre a tal de “saudade” e o tal de “ciúme”. Por definição, esses sentimentos não podem ser quantificados, mas a língua moderna coloquial insiste em criar várias “saudades” e diversos “ciúmes”. Uma boa conversa!

Cadê o chapéu que estava aqui?

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A Reforma Ortográfica ainda gera pânico e desespero em algumas pessoas. Tenho amigos que agora colocam hífen em tudo, com medo de errar. Vão chutando, contando com a lei da probabilidade. Outros, em um ato de resistência, negam-se a abolir o trema e, além, tal qual germânicos tupiniquins, colocam trema em todos os lugares.

No trecho acima, temos um exemplo desse momento de pavor diante de uma palavra que você levou anos para aprender a escrever e que, agora, não é mais escrita como você aprendeu.

Temos a forma verbal “vem”, que tem um sujeito plural (“As decisões”). Sendo assim, essa forma deveria também estar no plural.

E aí começa a confusão. Alguém disse que alguém comentou que alguém afirmou que o acento circunflexo, nosso querido chapeuzinho, caiu. Estamos de cabeças peladas.

Não é bem assim. O acento circunflexo deixou de existir na vogal tônica “o” de palavras paroxítonas, assim como: enjoo, povoo, voo, abençoo, perdoo.

Também deixou de existir nas formas verbais paroxítonas que possuem o “e” tônico fechado em hiato na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo. Exemplos? Os verbos ver, crer, dar, ler… antes, conjugavam-se “vêem”, “crêem”, “dêem”, “lêem”; agora, conjugam-se “veem”, “creem”, “deem”, “leem”.

Apenas nesses casos o circunflexo caiu. É comum colocar “ter” e “vir” nesse balaio, mas eles não têm nada a ver com isso. Continuam com o chapéu nas formas “têm” e “vêm”.

Corrigindo: “As decisões vêm de um governo de baixa credibilidade”.