Ideia interrompida

Às vezes, é estratégico. No meio do texto, a gente quer deixar um pensamento, uma ideia no ar…

Às vezes, é emocional. Queremos que as palavras mostrem alguma emoção, uma dúvida, uma hesitação…

Aí, lançamos mão desses três pontinhos… e pensamos… talvez… quem sabe…

E parou por aí! Um texto muito cheio de reticências, a não ser que tenha este objetivo mesmo, acaba por irritar o leitor pela falta de foco.

Não é novidade. Nas aulas de redação, sempre aprendemos que a clareza, a coesão, a objetividade são metas a serem perseguidas em nossos textos. Ainda mais em textos informativos.

No entanto, é possível que, em um ou outro ponto, lancemos mão do recurso das reticências para dar um movimento ao texto. Mas não dá para ficar divagando, tergiversando, viajando na maionese.

Red Pencil with Reflection Drawing Oval Speech Bubble containing Shaded Ellipsis on White Background

Ok, você está com muita vontade de usar reticências… seu dedo está coçando…

Então, pelo menos, fique atento(a) a estes detalhes:

1

Só dê espaço depois das reticências, nunca antes.

2

Se a ideia estiver completa, use letra maiúscula depois das reticências.

Mas acompanhar o pensamento dos parlamentares… Um outro tema a ser definido é a maioridade penal.

3

Se as reticências estiverem simbolizando uma pausa, uma hesitação ou se você estiver fazendo um suspense, use letra minúscula depois dos três pontinhos.

E o novo ministro da Saúde é… o deputado federal Marcelo Castro!!

4

Para indicar que foi suprimido um trecho de uma citação, usamos reticências entre parênteses ou entre colchetes. Escolhido um deles, o padrão deve ser mantido.

O réu informou que chegou ao local às 9h […], ficando no local até as 14h.

De onde você tirou isso, pessoa?

Lobão prestou um grande desserviço à língua portuguesa ao gravar a música “Me Chama”. Não há aquele admirador que, em uma roda de violão ou no escuro do quarto, curtindo uma baita dor de cotovelo, não tenha se esgoelado nos versos:

Aonde está você? Me telefona!

Me chama, me chama, me chaaaamaaaaa… 

De onde ele tirou o “aonde”?

Em se tratando de análise sintática, cada palavrinha tem a sua função dentro de uma frase. Nada sobra. Não dá para desmontar, montar de novo e ainda fazer um robô com as peças que sobram. Porque não existem tais peças.

Falamos um pouco de regência em outras postagens. Para recordar: regência é a relação de subordinação que se estabelece entre um verbo ou um nome e seus complementos. Essa relação pode exigir uma preposição ou pode dispensá-la.

A palavra “onde” pode ser um advérbio interrogativo. Advérbio, porque altera um verbo, dando uma informação de lugar. Interrogativo porque pode iniciar uma pergunta.

Onde você comprou esse material?

Também pode ser um pronome relativo, quando substitui um termo que já foi citado.

O local onde será realizada a reunião permanece em sigilo.

No exemplo acima, existem duas orações: (1) O local permanece em sigilo; (2) A reunião será realizada no local. Para não repetir o termo “local”, usamos o pronome relativo “onde”.

Vamos voltar ao “aonde” do Lobão.

Em algumas frases, usamos verbos que regem a preposição “a”. Frequentemente são verbos que indicam movimento. Por exemplo, o verbo “ir”.

Lembra aquelas ladainhas que a professora pedia para você repetir? Este é o momento de usá-las. Quem “vai” “vai” algum lugar. Ou seja, o verbo “ir” pede a preposição “a”.

Aonde você vai depois que sair do plantão?

O “a” se une ao pronome interrogativo “onde” e, voilá, eis que surge o “aonde”.

A esta altura do papo, você já deve ter sacado o erro na música tema do nosso post, certo?

O verbo “estar” não pede a preposição “a”. Por isso, o correto seria “onde está você”.

Dava para fazer um robozinho com o “a” que estava sobrando.

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Crédito da imagem: <http://megaarquivo.com/2012/04/04/5675-mega-tecs-eua-lancam-projeto-para-criacao-de-robos-caseiros&gt;